Acenando para aviões

  • 2
Parar ler ao som de: The Beatles - Across the Universe


Desde muito jovem, ficava fascinada quando via aviões. Era só ouvir o barulho de um deles rasgando o céu que eu corria na janela para acenar. E hoje, sei lá quantos anos depois, quase sempre é difícil conter a mão que se levanta em direção ao oceano azul que mora acima das nossas cabeças quando um deles passa. E mesmo quando não aceno, o olhar vago e curioso persiste.

O que me encantava era achar que alguém podia me ver lá de cima. Que no meio de tanta imensidão, de tantas casinhas e pessoas do tamanho de uma formiga, alguém lá em cima, andando entre as núvens, ia ver minha mão correndo pra lá e pra cá como quem diz "ei, eu também não sou daqui, a gente se reconhece".

Por mais seguros que estejamos de nós mesmos, a gente sempre espera por alguém que acene de volta. Por alguém que dê a certeza de que não estamos sozinhos. Ou esperamos por alguém que nos observe, nos enxerge em meio a multidão e, como se fôssemos um grão de milho em meio às ervilhas, nos perceba. Porque, às vezes, a gente precisa que os outros nos reconheçam como especiais, não importa o quanto a gente acredite ou saiba disso internamente. Uma frase repetida mil vezes, ou perde o sentido, ou vira verdade absoluta. E é assim que isso funciona.

A gente sempre espera pela mão que lá do alto vai nos salvar de nós mesmos com um aceno. E então, só então, poderemos caminhar seguros de que andar com os pés no chão não significa ter que abrir mão de uma cabeça que vive nas núvens.

Nunca deixe de acenar de volta. Você pode ser a certeza de alguém.

Lari

2 comentários:

  1. Moça Lari,

    Concordo contigo: precisamos nos reconhecer, o alhieo em nós, o outro que nos assoma, que nos chega como alguém há muito tempo esperado. Não somos sozinhos, fato. Contudo, criamos nossos muros, fazemos nossos fossos cheios de perigos e desafios, como se isso fosse o que de nós era esperado que fizéssemos. E ainda assim, lemos nos livros e ouvimos nas canções que precisamos "encontrar alguém". O aceno - mais do que nunca - se faz necessário. E esse pode vir na forma, olha só!, de um texto num blog. Por isso que comento: é meu aceno de volta, moça Lari.

    Um beijo!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Você captou direitinho o espírito da coisa! Em tempos como os nossos, esse aceno é mesmo mais do que nunca necessário. Obrigada por acenar de volta! Um beijo!

      Excluir

E aí,o que achou do post?