Sétima arte: Simplesmente Alice

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Sinopse: Alice Tate (Mia Farrow) é uma mulher da classe média alta que sente-se entediada com os seus 16 anos de casamento e acaba se apaixonando por um charmo saxofonista. Em busca de felicidade, ela encontra o acunpunturista Dr. Yang. O médico percebe que o problema de Alice está em sua mente e resolve prescrever estranhas e misteriosas ervas que provocam reações inusitadas.


Simplesmente Alice (1990), dirigido por Woody Allen.

Felicidade é questão de autoconhecimento e a sensação de estar perdido faz parte do sentimento de ser livre e poder fazer escolhas. Quem não está preso ao comodismo ou à amarras sociais imaginárias, fica apto a decidir, e poder confrontar a realidade com opções de escolha é realmente amedrontante. Afinal, como dizia o poeta, escolhemos um caminho, mas vivemos com a nostalgia dos outros 99; e escolher errado seria, por tabela, não ser feliz, já que a felicidade depende das nossas escolhas.

Woody Allen cria e descreve com maestria personagens amplamente insatisfeitos consigo mesmos, como é o caso de Alice e de, por exemplo, Gil de “Meia-noite em Paris”, que usam a insatisfação como locomotiva para o autoconhecimento e a felicidade.

A ideia que o filme vende, portanto, é a de que a felicidade depende muito das suas escolhas, e para fazê-las, o autoconhecimento é imprescindível. Quando aplicada ao amor, indaga-se: se você tivesse a erva que Alice recebe e que é capaz de fazer qualquer pessoa amar você, escolheria a pessoa certa? A resposta você só saberá com confiança se tiver o mínimo de conhecimento sobre si mesmo: do que gosta, do que não, quais são seus dons, onde quer chegar, o que quer fazer, em que acredita. E, principalmente, se acredita num caminho mais honesto e menos covarde para conhecer o amor, que não necessite de armadilhas fugazes ou prisões em gaiolas invisíveis, como mostra ser o casamento de Alice. Para ser feliz no amor, seja lá em que forma ele esteja, o autoconhecimento é necessário e fundamental.

E então, após entender o que se passa conosco, devemos escolher nosso caminho. Caminho esse que deriva de uma escolha completamente pessoal, que não pode ser renunciada ou transferida a outrem. Assim, na ótica de Allen, a felicidade não é estado de espírito, mas recompensa para quem conseguiu se compreender o suficiente para fazer boas escolhas e para saber lidar com as nem tão boas, buscando uma forma de acertar até mesmo nos erros. A dívida karmica é totalmente subjetiva.

Se é verdade que a vida imita a arte, está aí uma boa personagem para se imitada: Alice, que abriu mão da cômoda e supostamente feliz vida que tinha, com um marido, filhos e estabilidade econômica, para seguir um caminho trilhado lado a lado com a fidelidade ao que acredita, porém com maiores restrições econômicas e hostilidades sociais.

As vezes, o sorriso largo no rosto compensa. As vezes, não. E quem dosa é você. Cada um sabe de si e quem não sabe, deve procurar saber. Ignorar o autoconhecimento é ser o pássaro dentro da gaiola. O mundo precisa, com analogia à Kafka, de gaiolas que corram atrás de pássaros, não do contrário.

Voe!


Au revoir,

Lari


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