Sobre a arte de "se jogar".

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Tive uma infância feliz, com direito a férias na casa da avó, onde a mesa é sempre farta a qualquer hora do dia,onde o canto galo me acordava bem cedinho (contra a minha vontade,lógico), e onde eu vivi algumas das minhas grandes aventuras, no melhor estilo "Reinações de Narizinho".

Dessa época,lembro principalmente dos meus joelhos .Sim, joelhos. Estavam constantemente roxos ou ralados, denunciando minhas mais recentes travessuras e minha falta de jeito, mas nada muito grave.
Obviamente, isso não acontecia por negligência dos meus pais ,mas pelo fato de eles acreditarem que até mesmo cair era algo importante pra mim.

Lembro da minha mãe repetindo como um mantra: "Caiu? Levanta!".

Acho que isso influenciou bastante no modo como encaro a vida .É como se  aventuras estivessem todas ali, numa prateleira, pronta pra serem vividas, só esperando alguém pra tirá-las de lá.

Tem gente que olha pra prateleira como a criança pobre olha pra loja de brinquedos:Deseja muito ,mas acha que tudo aquilo está muito distante ,outros olham como o "mão- de vaca": Até gostariam de ter, mas acham que o preço a se pagar é muito alto e que talvez não valha a pena.

Mas, há ainda um tipo muito raro, que junta todos os trocados que tem no bolso,fica quebrado, mas leva a aventura!

E é nesse tipo de gente que eu deposito minha fé.Gente que conhece os riscos, mas que não abre mão do que quer por isso. Não estou falando aqui de gente inconsequente, que faz as coisas de qualquer jeito porque acha que é inatingível,mas daqueles que tem sonhos,convicções e que não se importam se a realização deles vai lhes custar alguns hematomas ou arranhões.

Porque no final das contas ,por mais profundo que tenha sido o corte, por mais dolorida que tenha sido a pancada, tudo cicatriza e volta a ser como era antes.O ser humano se reconstrói a todo momento, nosso corpo vive nos dando segundas chances, porque nossos espíritos teriam que ser diferentes?

Por isso,faço aqui o meu apelo: Se joguem na vida!Sem mais.


Beijobeijo


Indira Lima

Um comentário:

  1. Há medo. E ele corrói. E ele tem o dom de crescer em nós, mesmo quando não queremos. De nada adianta a gente se prometer que não vai sentir: ele está lá, ou mesmo aqui, num piscar de olhos, numa palavra ouvida. Daí que se jogar fica cada vez mais difícil. "E se não?", é a frase que nos segura, atando-nos às desculpas para não nos jogarmos.

    Jogar-se, sem inconsequência, é fruto de autoconhecimento, de saber o que se quer, de dar valor ao que realmente tem. E, muitas vezes, é questão da companhia adequada. Pois se cairmos, surgirá a mão amiga que nos ajudará a levantar. Talvez até mesmo passando mertiolate ou rifocina no corte do joelho. Depois, será eco das nossas risadas ao ver as cicatrizes (que nem sempre existem, vezes há que o salto cai em plumas).

    Beijobeijo!

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