Sobre cinema, autoconhecimento e fazer a diferença

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Sou apaixonada por cinema desde que me entendo por gente e uma das coisas que mais me fascinam é ver o quanto de nós mesmos pode ser reproduzido nas histórias de outras pessoas. É como se o mundo fosse um só, mas as histórias se repetissem de maneira que em qualquer parte do mundo você pudesse se reconhecer em outra pessoa que viveu algo parecido.

Essa capacidade de se assemelhar ao outro, na minha opinião, é o grande alicerce de um sentimento lindo, mas que vem perdendo força: a solidariedade. Porque nos colocando no lugar do outro, sabendo pelo que ele passa, somos capazes de entender seus sofrimentos e diminuir sua dor. Na nossa sociedade, onde isso vem perdendo tanto o significado e a importância, o cinema atua como um provocador, instigando a unidade. 

Você deve estar se perguntando aonde eu quero chegar com isso tudo, correto? Bom, há algum tempo, desenvolvi na minha cabeça uma espécie de tarefa cinematográfica: a cada filme que assisto, escrevo sobre as minhas impressões, sobre as semelhanças dos personagens com situações minhas ou de conhecidos, com as lições que pude tirar e o que eu teria feito no lugar deles; enfim, traço um perfil psicológico do filme. Além disso, fotografo cenas e frases impactantes para um tipo de memorial pessoal que inventei. É como se ao ver a fotografia, cada frase e cada cena me lembrasse do sentimento do personagem, do que aquilo desperta em mim e de como deveria agir diante daquilo.

Em outras palavras e de forma mais clara, tento fazer com que a história lúdica das telas de cinema possa aguçar a minha sensibilidade, me afetar, me ajudar a entender a mim mesma e ao mundo de uma forma mais solidária, holística, enxergando que somos partes de um todo e não partes isoladas que simplesmente não se encaixam e vagam por aí perdidas.

Cada um tem o seu lugar no mundo, sua tarefa, seus predicados, cruzes e vitórias. Bom, pelo menos é nisso que eu acredito. E dentro desse contexto, o cinema, esse velho conhecido, pode nos ajudar a descobrir o nosso papel,  sendo um meio de autoconhecimento. É como dizer “gosto de comédias” ou “gosto de terror”. Você está moldando as suas preferências de acordo com o que é, foi ou gostaria de ser. Tudo passa a ser uma projeção de si mesmo, onde você modifica e se deixa modificar.

E aqui, mais uma vez está o ponto onde quero chegar: modificar e ser modificado. Se é difícil lidar com as situações reais do dia-a-dia, onde é difícil enxergar os problemas de outro ângulo e de outra ótica, sem se enxergar como parte dele, que ao menos a gente possa se assemelhar e se reconhecer dentro dos 90 minutos onde alguém tem uma história a contar. E que a gente tire dela algo valioso, como nem sempre conseguimos tirar quando o assunto é vida real. Se solidarizar é para poucos, inclusive quando a solidariedade é para consigo mesmo.

Esse texto é somente uma forma de pedir aquilo que não deveria precisar ser pedido: olhemos para nós mesmos como personagens de uma história, onde somos diretor, ator e roteirista. Olhemos para a nossa história com forças para modificá-la, porque ela dura mais do que 90 minutos e porque impacta na vida de muitas outras pessoas. 

Que a gente faça o melhor por si e pelos outros e que olhe com mais carinho para as próprias falhas, porque elas são a prova viva de que nós tentamos. Um clichê isso tudo, você pode estar pensando.  Ok, pode ser. Descubra então o seu jeito de fazer a diferença. Eu estou tentando descobrir o meu.


Au revoir,

Lari

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